A Acadêmicos do Cubango ganhou pela segunda vez seguida os Estandartes de Ouro de melhor escola e melhor samba-enredo da Série A, com o enredo “Igbá Cubango: a alma das coisas e a arte dos milagres”, de Gabriel Haddad e Leonardo Bora, que estrearam ano passado na verde e branco de Niterói. Os jurados do prêmio O GLOBO/Extra dos melhores do carnaval ficaram encantados com o bom gosto e a criatividade das fantasias e alegorias e a capacidade dos carnavalescos de produzir um desfile emocionante ao escolherem um enredo com o qual os componentes se identificaram e reagiram cantando com animação. Havia fortes referências à memória afetiva da agremiação.
O enredo falou de objetos de devoção que, segundo a sinopse, ”
possuem alma e contam histórias”, como carrancas, figas, patuás, balangandãs e velas. E com destaque também do boneco Babalotim (a principal escultura do abre-alas), que foi cantado no samba de 1979, “Afoxé”, um clássico reeditado em 2009.
O samba-enredo lembra a quadra (“aos pés do morro fiz o meu terreiro”), o orixá (“atotô, eu bato cabeça pra Omulu”) e tem dois refrões empolgantes, que ajudaram a acordar a Sapucaí, já que a verde e branco foi a última a desfilar na Série A, pouco antes do amanhecer de domingo de carnaval.
Quatorze compositores assinam o samba-enredo: Samir Trindade, Sardinha, Diego Nicolau, Ailtinho, Anderson Lemos, Carlão, Chaynne Santos, Duda Tonon, Hugo Oliveira, Manolo, Marcos Paulo, Robson Ramos, Sérgio Careca e Thales Nunes.
Ano passado, o enredo foi “O rei que bordou o mundo”, sobre Bispo do Rosário. Haddad e Bora conseguiram traduzir a obra do artista plástico com fantasias e alegorias originais, de colorido encantador e em sintonia com a estética do homeneageado. Da mesma forma, os compositores Gabriel Martins, Bello, Wagner Big, Junior Fionda, Márcio André Filho, Jairo e Gigi da Estiva retrataram com clareza o seu universo na letra do samba, que teve como destaque o refrão “Resgata, Cubango, o meu grande amor/ Insano… Nessa avenida eu vou/ Trançando em arte o sentimento mais profundo/ Eu sou o rei que bordou o mundo”.
Veja na íntegra o samba-enredo da Cubango
Vou buscar pra mim
A força do seu axé
Menino babalotim no sagrado Afoxé!
Aos pé do morro fiz o meu terreiro
Onde o padroeiro me protege em seu altar
Atotô, eu bato cabeça pra Omulu
Nesse chão tem pipoca pro santo
Oferendas do meu mundo verde e branco
E, saruê baiana! Ê, saruê baiana!
Gira laguidibá, giram saias e guias
Carrega no patuá a sua sabedoria
Figas, carrancas e balangandãs
Relíquias e milagres no caminho
Sou peregrino e amarro a minha fé
A cruz no peito a me abençoar
No céu de promessas, o presente ofertar
Em romaria eu agradeci
Na alma das coisas, acreditei
Pedaços de sonho, ex-voto na mão
Um coração bordado ao divino rei
Senhor, tem piedade de nós
Eis a oração em nossa voz
Tem gente vendendo ao povo ilusão
Acendo vela, peço salvação
Ko si oba kan ôôôô
Ofi Olorum ôôôô
Meu Igba Cubango
É amuleto, proteção e amor