Publicado em 28/09/18 11:04 Atualizado em 28/09/18 15:27 Ex-mulher acusou Bolsonaro de ocultar milhões em patrimônio e furtar cofre, diz revista

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RIO – Em processo de separação aberto em 2008, Ana Cristina Valle, ex-mulher de Jair Bolsonaro, acusa o candidato do PSL à Presidência da República de ocultar milhões em patrimônio, furtar joias e valores de um cofre por ela mantido no Banco do Brasil e agir com “desmedida agressividade” no relacionamento. O documento, de mais de 500 páginas, foi obtido pela revista “Veja”, que publicou em seu site reportagem no fim da noite de quinta-feira.

Procurada pelo GLOBO, Ana Cristina, mãe de um dos filhos de Bolsonaro, não comentou o assunto. À revista, ela também não quis se pronunciar sobre as acusações, afirmando que, “quando você está magoado, fala coisas que não deveria”. O presidenciável, hospitalizado em São Paulo, também não se pronunciou.

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Alegando que Bolsonaro não estava fazendo uma justa partilha de patrimônio, Ana entrou com ação na 1ª Vara de Família do Tribunal de Justiça do Rio e anexou ao processo uma lista de bens mais extensa do que a declarada pelo deputado federal ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na campanha de 2006. Em vez dos R$ 433.934 informados à época à Justiça eleitoral, os peritos do TJ do Rio calcularam o patrimônio de Bolsonaro em R$ 4,001 milhões no mesmo período.

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Ela também afirmou no processo que Bolsonaro tinha rendimentos consideráveis, chegando a cerca de cem mil reais mensais, o suficiente para proporcionar “a sua família um elevado padrão, financiando frequentes viagens ao exterior”. Na ocasião, a renda declarada do presidenciável era de R$ 35,3 mil, considerando vencimentos de R$ 26,7 mil como deputado federal e de R$ 8,6 mil como militar da reserva. Ana Cristina aponta que o ex-marido tinha “outros proventos” – mas não os descreve.

na acusa ainda Bolsonaro de ter furtado R$ 200 mil e US$ 30 mil em espécie e joias avaliadas em R$ 600 mil de um cofre mantido por Ana Cristina em agência do Banco do Brasil no Centro do Rio. O sumiço do conteúdo gerou registro de ocorrência na 5ª Delegacia de Polícia na tarde de 26 de outubro de 2007.

Um gerente do BB na ocaisão, Alberto Carraz, foi ouvido pela Polícia e por “Veja”. Ele confirmou o furto do cofre de Ana Cristina – sem atribuir ao presidenciável autoria – e revelou que Bolsonaro também mantinha um cofre na agência. Este cofre nunca foi declarado pelo presidenciável, segundo os documentos aos quais a revista teve acesso.

Chamada a depor duas vezes, Ana Cristina acabou não comparecendo à delegacia. Após dez anos, a investigação foi encerrada sem esclarecimento.

GUARDA DO FILHO

À “Veja”, Ana Cristina não quis dar detalhes sobre o episódio. Perguntada sobre por que desistiu da investigação, ao não comparecer para depor, afirmou ter decidido ficar “quieta”, porque “iria dar um escândalo”: “Nós dois (ela e Bolsonaro) tínhamos um acordo de abrir mão de qualquer apuração porque não seria bom”. Perguntada sobre os termos do acordo, disse: “Aí eu prefiro ficar… me omitir”.

Nesta semana, Ana Cristina Valle já havia aparecido no noticiário por ter acusado Bolsonaro de tê-la ameaçado de morte quando os dois disputavam a guarda do filho. Ela levou o então garoto para a Noruega. O relato da ameaça de morte foi feito ao vice-cônsul brasileiro em Oslo, que a procurou após orientação do Itamaraty, e consta de telegrama diplomático, revelado pela “Folha de S.Paulo”.

Bolsonaro havia pedido ajuda ao Ministério das Relações Exteriores. O teor do documento foi confirmado pelo então embaixador brasileiro no país.

No processo no TJ do Rio, a defesa de Bolsonaro juntou um depoimento no qual o capitão acusa a ex-mulher de sequestro e chantagem. Ele alega que Ana Cristina levou o filho para o exterior e condicionou a volta do menino à devolução do dinheiro e das joias furtados do cofre.