“Situação é bem mais crítica do que se pensa na questão dos agrotóxicos”, diz pesquisadora

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Na tarde desta quarta-feira (24), o Dourados Newsrecebeu a  pesquisadora da Fiocruz, doutora Fernanda Savicki de Almeida, com abordagem sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde coletiva. A pesquisadora será palestrante na audiência pública com esta temática que acontece nesta quinta-feira (25), na Câmara Municipal de Dourados.

Ela destaca que os produtos nocivos a saúde estão presentes na água, nos alimentos e no ar e que a situação é “bem mais crítica do que se imagina”. Entre os embasamentos apontados para essa afirmativa, ela cita a pesquisa da Sisagua (Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade de Água para Consumo Humano) que constatou a presença de agrotóxicos na água em dezenas de cidade em todo o Brasil, inclusive em Dourados.

Ela destaca que apesar das empresas responsáveis pelo abastecimento apontarem que os níveis estão dentro dos permitidos, as regras nesse aspecto no Brasil podem ser consideradas “maleáveis” já que em outros países, os níveis permitidos são bem menores.

O estudo “Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia” é apontado pela pesquisadora. Neste ponto, consta no mesmo, informações sobre a relação agrotóxico/água no Brasil e na União Europeia, como exemplos: Na EU (União Europeia) o limite máximo de herbicida por UG/L na água é de 0,1, sendo no Brasil 30. Na mesma comparação, a permissibilidade do Diuron na EU é de 0,1 por UG/L, no Brasil é de 90. No caso do Tebuconazol, o nível permitido é de 0,1 na UE por UG/L, sendo no Brasil de 180. O Glifosato possui nível de 0,1 na EU por UG/L, enquanto no Brasil, o mesmo é de 500.

“São níveis muitos maiores do que os permitidos em outros países, qual motivo? Nossa saúde é diferente da de outros seres humanos. Nos tornamos mais resistentes a esses venenos para nossa saúde”, questiona, ao ressaltar que mais de outros 200 tipos de agrotóxicos conhecidos não são levados em consideração nesta pesquisa, o que se ocorresse poderia mostrar uma condição ainda mais preocupante na água.

O aumento de casos de câncer em Mato Grosso do Sul podem estar sendo motivados pelo impacto do agrotóxico no corpo humano. Nesse ponto, a pesquisadora enfatiza que estudos tem mostrado que além de câncer, agrotóxicos provocam alterações nas funções sexuais, puberdade precoce, diabetes, infertilidade, malformações fetais, aborto, endometriose, disfunções de tireoide, obesidade, entre outras doenças.

Na audiência, o tema será abordado pela pesquisadora que também é integrante da Comissão de Estudo dos Impactos dos Agrotóxicos no MS e afirma que abordará também as  consequências dos modelos de desenvolvimento que refletem em outras áreas, como na saúde e educação e em outras partes da economia do Brasil, bem como na biodiversidade em geral.

Ela ressalta a necessidade que a população busque se informar pelo tema, com ênfase ao fato de que anteriormente se existia o pensamento de que apenas as famílias residentes no campo precisavam ter essa preocupação, porém atualmente isso mudou, por ser uma questão que alcança a todos.

Como alternativas, para o uso dos produtos de forma menos prejudicial à saúde humana, a pesquisadora é enfática “não se está se falando em banir e sim em reduzir. Atualmente existem tecnologias para grandes produções no agronegócio, com menor uso desses produtos. Existe também o manejo integrado de pragas que é uma alternativa, entre outras tecnologias e medidas que ajudariam como  elevar o valor dos agrotóxicos que atualmente não têm impostos embutidos”, ressaltou.

A Audiência Pública em Dourados acontece nesta quinta-feira, dia 25, às 18h30, na Câmara Municipal, sendo uma proposição do vereador Elias Ishy.