Guaranis Kaiowás de Amambai participam do 19º Festival de Bonito

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Promover a arte, a cultura, o meio ambiente e a cidadania. Este é o foco principal do Festival de Inverno e Bonito, realizado anualmente no final do mês de julho. Neste ano, a programação da 19ª edição esteve concentrada de 26 a 29 de julho, mas também aconteceram eventos nos dias 22 e 25 do mesmo mês.

Teatro, música, artes plásticas, dança, instalações, artesanato, oficinas, seminários, cinema, esporte, trilhas, culinária e literatura foram as ferramentas utilizadas pelos artistas e promotores para democratizar as manifestações culturais. O Estado de Mato Grosso do Sul predominou nas autorias dos espetáculos, mas presente também estiveram outros, como São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Brasília.

Amambai também ocupou seu espaço no Festival com a participação de Guaranis Kaiowás da Aldeia Amambai. O potencial indígena do artesanato, da dança e do teatro foi promovido no evento.

Lúcia Pereira, 25 anos, graduada em Ciências Sociais pela Uems e mestranda em Antropologia Social na UFGD, foi uma das que integrou o grupo de artesãs da aldeia Amambai, junto com Lucila e Mônica Vera. Este é o segundo ano que o artesanato Guarani Kaiowá de Amambai é exposto e comercializado no Festival de Bonito na Tenda dos Saberes Indígenas. Segundo ela, cerca de 20 mulheres trabalham com artesanato na aldeia Amambai, com diferentes materiais.

As artesãs Lúcia e Lucila. 
Foto: Moreira ProduçõesAs artesãs Lúcia e Lucila.
Foto: Moreira Produções

Produção do artesanato como forma de resistência e visibilidade

Lúcia utiliza linhas, miçangas e sementes para criar seu artesanato desde 2013. Para ela, o artesanato representa a resistência de seu povo e a visibilidade das mulheres indígenas. “Porque antes as mulheres indígenas, sendo jovens ou tendo mais idade, elas eram apenas donas de casa. A minha militância é lugar de mulher é onde ela quiser. Na minha graduação, eu aprendi muito essa questão feminista, os movimentos.” Ela conta que foi nesta época, do estudo acadêmico, q ela começou a fazer artesanato.

A artesã avalia que a discussão sobre a valorização da mulher indígena dentro das aldeias está se fortalecendo, mesmo que ainda com alguma resistência dos homens. Entre as iniciativas governamentais e não governamentais q vêm de fora para dentro das áreas indígenas, ela cita o trabalho realizado pelos profissionais da Saúde vinculados a Sesai – Secretaria Especial de Assuntos Indígenas do Ministério da Saúde. Lúcia é otimista e afere resultados positivos nas ações sociais, culturais, e políticas, dentre outras, realizadas nas aldeias. “Muitos jovens que passaram pela escola pública estão em várias faculdades agora e pensam diferente dos seus pais. Eu vejo isso; porque meus pais, quando eu casei, eles não deixaram eu iam deixar que eu continuasse os estudos. Casou, pronto, é para ter filhos e cuidar da casa; mas eu quebrei a regra, primeiro porque eu continuei a estudar, segundo porque eu tinha um objetivo na minha vida, ser visibilizada, representar as mulheres (…).”

Artesanato de diferentes etnias indígenas do MS foram expostos e comercializados em local próprio.
Foto: Moreira ProduçõesArtesanato de diferentes etnias indígenas do MS foram expostos e comercializados em local próprio.
Foto: Moreira Produções

Da aldeia Amambai para o mundo

Grupo de Dança Arandu, sob a coordenação do professor e vereador Ismael Morel, estreou no Festival. Através de contato com a subsecretaria Indígena do governo estadual, que viabilizou a participação, além do transporte, cerca de 20 jovens apresentaram cinco danças. Ele conta que o grupo gosta muito de apresentar danças e cantos de boas-vindas, de recepção, entre essas, o Guaxiré, que pode ser celebrado em qualquer hora e em qualquer data.

Achei excelente esta oportunidade, fala Ismael. “Tomara que esta porta se abra sempre, não só para os Kaiowás, mas para todos os indígenas, para que a gente possa estar aí se inserindo e mostrando a riqueza da nossa cultura (…) acho que esta diversidade cultural é o legal do evento e a gente acaba mostrando o trabalho para todo mundo.”

E/D:  Silvana Dias de Souza de Albuquerque, da Subsecretaria de Políticas Públicas para a População Indígena, o professor e coordenador do Grupo de Dança Arandu, Ismael Morel, e alguns jovens integrantes da iniciativa.
Foto: Moreira ProduçoesE/D: Silvana Dias de Souza de Albuquerque, da Subsecretaria de Políticas Públicas para a População Indígena, o professor e coordenador do Grupo de Dança Arandu, Ismael Morel, e alguns jovens integrantes da iniciativa.
Foto: Moreira Produçoes

O Projeto de Dança Arandu existe desde 2005, sempre com a renovação dos integrantes. “Minha intenção sempre foi que o jovem indígena se ponderasse, se superasse em todas as expectativas que ele tem em relação ao futuro. E eu acho que a arte ajuda muito nesta questão. Além de manter o tempo ocupado, deixado o ócio de lado, faz com que ele tenha perspectivas diferentes, afirmando principalmente a questão étnica, mas também o ser humano, se descobrindo através da arte para que possa estar enfrentando os desafios”, explica o professor de Educação Física.

Do sonho à realidade

Questionado sobre o que significa participar do Festival de Bonito, o coordenador do Grupo de Teatro Pa’ikuararendy, o professor Duadino Martines, graduado em Ciências Biológicas, diz que é viver um sonho. “Porque nós enquanto professor a gente sonha muito por esses alunos, trazer eles fora de Amambai e mostrar um pouco a cultura de Amambai, isto é um privilégio.” Eles apresentaram a peça A Fala da Terra, que fala sobre a cultura Guarani Kaiowá, a relação com a terra, os rituais – o canto, a dança, a reza, o batismo, a pintura – que é passado de geração em geração.

Encenação da peça A Fala da Terra pelo Grupo de Teatro Pa’ikuararendy.
Foto: Moreira ProduçõesEncenação da peça A Fala da Terra pelo Grupo de Teatro Pa’ikuararendy.
Foto: Moreira Produções

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