Ensino domiciliar: criança perde sem a convivência em sociedade, analisam especialistas de MS

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A proposta do presidente Jair Bolsonaro para regulamentar o ensino domiciliar no Brasil, onde os pais ficam responsáveis pela educação dos filhos, não tem sido vista com bons olhos por profissionais da área em Campo Grande.

Para o professor Willian Martinhão, a medida é um retrocesso até pelo alto índice de pessoas analfabetas no Brasil – segundo dados do IBGE 2018, mais de 11,5 milhões estão nessa condição.

“O ensino domiciliar, no caso do nosso país, é um retrocesso, pois a maioria das famílias não tem capital cultural e nem estrutura social e econômica para exercer essa atividade. Ou seja, como que os pais que trabalham oito horas por dia, ganham um salário mínimo, já vem de uma formação educacional precária, vão ter tempo e habilidade de ensinar conteúdos científicos diversos para seus filhos?! É praticamente impossível”, destaca.

Ainda conforme o IBGE, mais de 40% das pessoas acima dos 25 anos não têm o ensino fundamental completo, somando 53 milhões de pessoas, quanto mais ensino superior completo.

“Só 16 % dos brasileiros têm ensino superior. Então, no contexto histórico e social que vivemos, a defesa do ensino domiciliar é apenas discurso de quem não conhece a realidade ou tem a má intenção de manter a sociedade, o povo mais pobre, na ignorância. Mas há outros fatores que se complicam, fora a questão do desenvolvimento do saber científica”, defende Willian.

Convivência em sociedade

Outro ponto analisado pelo profissional é a importância dos valores aprendidos pelos alunos quando em contato com outras crianças.

“A escola é uma instituição que, em colaboração com a família, ensina valores morais de convivência em ambiente coletivo. E isso é fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade mais ética”.

Atuando no ramo há 25 anos, a professora Ana Rachell Schmidt, acredita em toda forma de educação desde que seja aplicada com competência, respeitando uma metodologia e com objetivos claros.

“A educação domiciliar não substitui o ganho que a criança tem a partir da convivência com seus pares, mas promove o desenvolvimento do estudante”, destaca.

Questionada sobre concordar ou não com a prática, ela também ressalta a importância do ambiente escolar na vida dos estudantes.

“Quanto a minha opinião particular da sua utilização, sou a favor de sua aplicação apenas se o estudante não tem como participar do ambiente educacional por motivos de saúde ou impossibilidade de locomoção. O desenvolvimento pleno requer vivências, interação e trocas de experiências. A escola é o ambiente mais propício para esse desenvolvimento saudável”, finaliza.