Deixem a Xuxa envelhecer em paz (e as outras mulheres também)

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Xuxa está envelhecendo. Não há nada mais natural no mundo do que o corpo exibir a passagem do tempo, mas ficar velho é motivo de um preconceito específico, chamado de “ageismo”, do qual a apresentadora é só mais uma vítima.

‘As pessoas têm dificuldade em aceitar que envelheci’, diz Xuxa

O termo vem do inglês (ageism), tem como base a palavra age (idade) e foi cravado em 1969 pelo psiquiatra americano Robert Butler, que militava contra a discriminação de pessoas de idade.

“Elas querem aquela Xuxa [de 30 anos atrás]. Vai ficar ridículo eu usar chuquinha, é uma exposição que não quero e não preciso ter. Acho que dói mais nas pessoas do que em mim [aceitar que está envelhecendo]”, diz Xuxa, em entrevista para o youtuber Maicon Santini sobre seu novo projeto, Geração X, programa exclusivo do PlayPlus que marca o reencontro de Xuxa com o universo infantil.

As crianças, diz ela, a aceitam como está hoje, sem cobranças se o cabelo está deste ou daquele jeito, se está gorda, com rugas, coisa que seus “fãs” não fazem.

A reação dos adultos diante de uma foto de Xuxa sem maquiagem durante as férias dá bem a medida do “ageismo” em questão. Chamar Xuxa, ou qualquer outra mulher, de ‘velha’ não é e não pode ser um xingamento. Ficar velha é uma certeza da vida, só não fica quem morre jovem. E a opção dela de não querer seguir a cartilha das celebridades, que se enchem de botox e preenchimento, precisa ser respeitada.

“Não tenho nada contra quem faz, mas eu não vou chegar com uma foto da Kim Kardashian e dizer ‘quero essa bunda, essa boca’. Eu tô legal. Tenho  uma pessoa que me aceita do jeito que eu sou. Você tem que estar bem resolvida. Eu estou feliz. Será que essas pessoas estão felizes?”, provoca Xuxa.

Xuxa diz que fãs querem 'aquela Xuxa' de 30 anos atrás

Xuxa diz que fãs querem ‘aquela Xuxa’ de 30 anos atrás

Reprodução/Instagram

Esse preconceito que Xuxa agora sente é o mesmo que transparece em falas como “você está ótima para sua idade”. Ótima pra quem? É o tipo de julgamento que usa a régua do padrão de beleza para carimbar mulheres.

Uma mulher ‘mais velha’ certamente tem muito mais coisas a oferecer ao mundo do que um rostinho sem rugas ou uma bunda na nuca. Ser atraente muda de figura. São outros os atrativos. Quem não enxerga isso e segue cobrando “beleza” está enraizando o preconceito.

De acordo com artigo de Mariza Tavares, jornalista e professora da PUC-RJ, sobre o tema, o ageísmo não precisa ser forçosamente grosseiro, como a gente vê em tratamentos como “você é um inútil”, “está gagá”, “lugar de velho é em casa”.

Há, segundo ela, formas veladas que mascaram o preconceito, como infantilizar o indivíduo, falando com ele de forma tatibitate ou usando expressões como “vozinho” ou “vovozinha”, ou essa ideia de que fulano está ótimo para a idade.

Xuxa não se abala e ensina que é preciso estar de bem consiga mesma. “Me aceite do jeito que eu sou”, aconselha aos inconformados com seu envelhecimento sem maquiagem. Antes de tudo, Xuxa se aceita. Está pleníssima, trabalhando, amando, sendo feliz. As mulheres, queridos, envelhecem. E merecem envelhecer em paz. Aceita, que dói menos.