‘Não podemos deixar que nada tire nosso foco da pandemia’, diz vice de Witzel, no segundo dia como governador em exercício

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O governador em exercício do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, começou o seu segundo dia à frente do estado em uma reunião no Palácio Guanabara com a cúpula da Saúde, juntamente com o secretário da pasta, Alex Bousquet. A secretaria é especialmente sensível, já que, além de ter a responsabilidade de combater pandemia, é também a pasta onde nasceram os escândalos que acabaram por causar o afastamento de Wilson Witzel, determinado pelo Superior Tribunal de Justiça, na sexta-feira (28). Segundo a assessoria de imprensa, a pauta foi o combate à Covid-19.

Cláudio Castro chegou à sede do Poder Executivo em um carro preto, acompanhado de escolta, sem falar coma imprensa. Em nota, sua assessoria informou que o governador em exercício disse: “Não podemos deixar que nada tire nosso foco da pandemia. Saúde é prioridade, por isso, o acompanhamento sistemático para manter nossas ações na capital e no interior. Vamos unir nossos esforços com outras esferas de poder e trabalhar com diálogo e parceria, além de reforçar os instrumentos de controle e transparência”.

No bairro das Laranjeiras, a rotina segue como de habitual, apesar do terremoto que atingiu o mais alto escalão da política, com operações de busca e apreensão que incluíram o vice-governador e o presidente da Assembleia Legislativa, André Ceciliano (PT).

A primeira reunião do governador em exercício, que chegou ao cargo mais importante do estado depois de chefiar o gabinete do deputado Márcio Pacheco (PSC) e de atuar como vereador da capital, foi ainda na própria sexta-feira, e abordou outro tema de especial importância, a segurança pública. De perfil mais conciliador, espera-se que a área passe por mudanças.

Também investigado

Apesar de já demonstrar-se à vontade no cargo, Castro, no entanto, também está na mira das investigações do MPF. Segundo a delação premiada do ex-secretário de Saúde Edmar Santos, o presidente da Alerj, André Ceciliano (PT), e Cláudio Castro montaram uma estratégia para desviar recursos da Alerj sob pretexto de financiar secretarias municipais de Saúde. Esses valores, entretanto, eram direcionados para os bolsos dos deputados estaduais, de acordo com a investigação.

A investigação detectou que foram repassados cerca de R$ 100 milhões dos duodécimos da Alerj para os cofres estaduais. Desse total, foram feitos repasses sem fiscalização e sem critérios objetivos para diversos municípios escolhidos por deputados estaduais aliados. De acordo com a PGR, o governo Witzel não apresentou prestação de contas desses repasses.

Ao solicitar busca e apreensão contra o vice-governador, a PGR descreve sua participação da seguinte forma: “Presidiu a comissão de acompanhamento dos hospitais de campanha. Em conjunto com ANDRÉ CECILIANO, Presidente da ALERJ, e de WILSON WITZEL, CLÁUDIO CASTRO organizou esquema criminoso que contou com a participação do próprio EDMAR, secretário estadual de saúde na época, dos deputados RODRIGO BACELLAR e MÁRCIO CANELLA, além do secretário estadual ANDRÉ MOURA para desvio, em proveito dos Deputados, de sobras dos duodécimos do Poder Legislativo ‘doados’ ao Erário estadual a pretexto de financiar as Secretarias Municipais de Saúde”.

O advogado de Cláudio Castro esteve no imóvel dele, onde foi cumprida a busca e apreensão, e afirmou que foi pego de surpresa e que vai tomar as medidas necessárias assim que tiver acesso ao processo. À tarde, Castro disse lamentar os acontecimentos na manhã desta sexta-feira (28/08) e ressalta estar com consciência tranquila e totalmente à disposição para colaborar com as investigações. Em nota, afirma confiar na Justiça e na garantia ao amplo direito de defesa a todos os envolvidos para que os fatos possam ser devidamente esclarecidos para sociedade. Ele enviou uma nota no fim da noite desta sexta:

“O governador em exercício do Estado do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, esclarece que, no fim de 2019, tratou com o ex-secretário de Saúde Edmar Santos, sobre o índice mínimo de 12% que os Estados devem investir na Saúde, conforme determina a Constituição Federal, e os repasses para as prefeituras de todo o Estado.

Cláudio Castro afirma que jamais tratou de distribuição de duodécimo com o presidente da Alerj, André Ceciliano, como disse Edmar Santos em delação. Segundo Castro, a denuncia do ex-secretário não tem base na realidade e pretende criminalizar a relação institucional entre os entes federativos”.

Sobre as acusações da PGR, André Ceciliano se defendeu em nota:

“O presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), deputado André Ceciliano, está acompanhando os desdobramentos da Operação Tris in Idem e seus impactos na governança do Estado do Rio de Janeiro.

Ceciliano desconhece as razões da busca e apreensão em seus gabinetes no prédio da Rua da Alfândega e no anexo, mas está tranquilo em relação à medida. Ele pôs à disposição dos agentes da PF seu gabinete no Palácio Tiradentes, que não estava incluído no mandado.

Ceciliano reitera a sua confiança na Justiça e afirma que está pronto a colaborar com as autoridades e a contribuir com a superação desse grave momento que, mais uma vez, o Rio de Janeiro atravessa. Ele também colocou seus sigilos bancário, fiscal e telefônico à disposição das autoridades.”